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OOBr apresenta dados de mortalidade de gestantantes e puérperas inéditos no Brasil
07/07/2022
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O Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) apresentou no dia 7 de julho de 2022, em coletiva on-line a jornalistas, dados inéditos e preocupantes dos óbitos entre gestantes e puérperas no país no triênio 2019/2021. A apresentação pode ser assistida neste link.
O número de mortes de gestantes e puérperas em território nacional é cerca de 35% maior do que o veiculado pelo Ministério da Saúde (MS) a partir da metodologia vigente, conforme estudo e estatísticas expostos pelas coordenadoras do OOBr Rossana Pulcineli Vieira Francisco, professora associada da disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, e Agatha Rodrigues, professora adjunta do Departamento de Estatística da Universidade Federal do Espírito Santo, e pelo aluno de graduação em Estatística da Universidade Federal do Espírito Santo, Rafael Sant’Ana Herzog.
É expressivo o número de óbitos de mulheres entre 10 a 49 anos ocorridos na gravidez, parto ou puerpério, porém não contabilizados pelo MS por não terem sido classificados em uma das categorias pré-determinadas para morte materna da Classificação Internacional de Doenças (CIDs), conforme tabela abaixo:
MORTES NÃO CONSIDERADAS DE GESTANTES E PUÉRPERAS ATÉ 42 DIAS
Momento gestacional |
2019 | 2020 | 2021* |
Morte durante a gravidez, parto ou aborto | 98 | 103 | 177 |
Puerpério até 42 dias | 82 | 66 | 170 |
Total | 180 | 169 |
347 |
* Os dados de 2021 são preliminares.
Somam-se a esses óbitos não contabilizados as mortes de mulheres entre 10 e 49 anos que ocorreram durante o puerpério tardio (de 43 dias a 1 ano após o parto), mas que também não figuram nos dados oficiais do Ministério da Saúde do Brasil. São 390 óbitos não considerados como morte materna de puérperas com 43 dias a 1 ano depois do parto em 2019, 450 não considerados em 2020 e 510 óbitos em 2021.
MORTES DE PUÉRPERAS DE 43 DIAS A 1 ANO APÓS O PARTO
Momento gestacional |
2019 | 2020 | 2021* |
Puerpério de 43 dias a 1 ano | 390 | 450 |
510 |
* Os dados de 2021 são preliminares.
Somatória de óbitos não contabilizados é preocupante
Em 2019, se computadas as mortes não consideradas de gestantes (98 mortes), de puérperas até 42 dias após o parto (82 mortes) e de puérperas de 43 dias a 1 ano após o parto (390 mortes), temos um aumento de 36% no número de mortes de gestantes e puérperas. Em 2020, se somadas as mortes não consideradas de gestantes (103 mortes), de puérperas até 42 dias após o parto (66 mortes) e de puérperas de 43 dias a 1 ano após o parto (450 mortes), teríamos um aumento de 31% no número de mortes de gestantes e puérperas. Em 2021, se somadas as mortes não consideradas de gestantes (177 mortes), de puérperas até 42 dias após o parto (170 mortes) e de puérperas de 43 dias a 1 ano após o parto (510 mortes), teríamos um aumento de 30% no número de mortes de gestantes e puérperas.
O Observatório Obstétrico Brasileiro adverte igualmente para grandeza numérica das causas externas de morbidade e mortalidade de gestantes e puérperas tanto no período de até 42 dias após o parto quanto na faixa de 43 dias a menos de um ano, classificadas na CID X – causas externas de morbidade e mortalidade, não consideradas no cálculo de morte materna. Nesse grupo, estão óbitos decorrentes de suicídio, violência, disparo de arma de fogo etc.
MORTES DE GESTANTES E PUÉRPERAS POR CAUSAS EXTERNAS
Momento gestacional |
2019 | 2020 | 2021* |
Morte durante a gravidez, parto ou aborto | 155 | 134 | 134 |
Puerpério até 42 dias | 21 | 18 | 23 |
Puerpério de 43 dias a 1 ano | 111 | 121 | 84 |
Total | 287 | 273 |
241 |
* Os dados de 2021 são preliminares.
Observamos, acima, 287 mortes de gestantes e puérperas por causas externas em 2019, 273 mortes em 2020 e 241 mortes em 2021.
Números oficiais também são frustrantes e alarmantes
Essencial registrar que hoje, mesmo somente à luz das estatísticas oficiais do Ministério da Saúde (MS), o Brasil está à distância abissal de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Quantificação preliminar da Razão de Morte Materna (RMM) de 2021 aponta 107.53 óbitos por 100 mil nascidos vivos, sendo que o compromisso do país é a redução de 30 mortes/100 mil até 2030.
Na tabela, abaixo, temos a razão da mortalidade materna segundo a metodologia atual do Brasil de 2016 até 2021. Não foram utilizados fatores de correção do MS e consideramos as mortes maternas entre 10 e 49 anos. Os números de 2021 ainda não estão consolidados (dados preliminares) e podem ser modificados após a investigação de casos suspeitos ou prováveis pelos comitês de morte materna municipais ou estaduais.
RAZÃO DE MORTE MATERNA BRASILEIRA DE 2016 ATÉ 2021
Ano |
Nº de mortes maternas declaradas |
Nº nascidos vivos |
Razão de morte materna (por 100 mil nascidos vivos) |
2016 |
1666 |
2857800 |
58.3 |
2017 |
1716 |
2923535 |
58.7 |
2018 |
1658 |
2944932 |
56.3 |
2019 |
1575 |
2849146 |
55.3 |
2020 |
1964 |
2730145 |
71.9 |
2021* |
2857 |
2660425 |
107.4 |
Fonte: SIM (dados de mortalidade) e SINASC (número de nascidos vivos).
* Dados não consolidados (preliminares).
Nova plataforma OOBr para imprensa, população e médicos, entre outros públicos
O Observatório Obstétrico Brasileiro coloca à disposição da sociedade, médicos, alunos de medicina e profissionais da saúde, entre outros, uma nova plataforma interativa de monitoramento, análise de dados públicos, disseminação e compartilhamento de informações relevantes da área de Obstetrícia do Brasil. São disponibilizadas análises exploratórias dos dados, com visualização on-line, dinâmica e opções de filtragem. É o portal https://observatorioobstetricobr.org/.
O OOBr utiliza métodos de machine learning para analisar de maneira responsável dados públicos disponíveis em diferentes bases de dados sobre a saúde obstétrica do Brasil, sempre considerando a grande quantidade de informações não computadas em situações diversas.
A importância do projeto se dá pela democratização do acesso a dados públicos de maneira estruturada e com responsabilidade, de forma que todos interessados possam ter acesso à informação, gestores públicos possam tomar decisões baseadas em evidências e que as discussões sobre políticas públicas sejam embasadas em análise de dados confiáveis.
Sobre o Observatório Obstétrico Brasileiro
O Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr) é uma plataforma interativa de monitoramento, análises de dados públicos (da saúde, socioeconômicos e ambientais) cientificamente embasadas e disseminação de informações relevantes na área da saúde materno-infantil, com recortes estaduais e municipais. O OOBr visa à ser referência de informações acessíveis e confiáveis sobre saúde materno-infantil e um suporte importante para a tomada de decisões na área. Com o intuito de fortalecer e disseminar o conhecimento na área de Ciência de Dados, no OOBr também são disponibilizados livros, tutoriais e postagens de Ciência de Dados aplicada à área de saúde materno-infantil.
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