Mortalidade materna associada à COVID-19 no Brasil em 2020 e 2021: comparação com mulheres não grávidas e homens

21/12/2021

Artigo Científico

Durante o ano de 2021, vimos que a pandemia para a população materna foi mais letal quando comparado ao ano de 2020 (reportagem https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/04/media-semanal-de-mortes-maternas-por-covid-em-2021-ja-e-mais-do-que-dobro-de-2020.shtml). Mas surge a dúvida: será que a  pandemia foi mais letal em 2021 para toda a população brasileira e isso refletiu para a população materna ou será que o aumento na letalidade foi muito maior para a população materna?

Para responder a essa pergunta, o artigo “Mortalidade materna associada à COVID-19 no Brasil em 2020 e 2021: Comparação com mulheres não grávidas e homens” (do inglês: Maternal mortality associated with COVID-19 in Brazil in 2020 and 2021: Comparison with non-pregnant women and men) foi realizado e publicado em dezembro de 2021 na revista científica Plos One.

O objetivo desse estudo consiste em comparar as características demográficas, clínicas e progressão da doença (incluindo óbito) de gestantes e puérperas do segundo ano da pandemia em comparação com o primeiro ano. Também é objetivo comparar a diferença entre os dois anos para a população materna com os resultados das análises análogas dos grupos de mulheres não gestantes e homens.

Foi realizada uma análise retrospectiva dos registros do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe do Ministério da Saúde do Brasil (SIVEP-Gripe disponível em https://opendatasus.saude.gov.br), entre o primeiro caso notificado (primeiros sintomas em fevereiro de 2020) até a 17ª semana epidemiológica de 2021. Estratificamos os pacientes em mulheres maternas (que inclui gestantes e puérperas), mulheres não maternas e homens. Esses grupos foram divididos por momento do diagnóstico em dois períodos: primeiro período (fevereiro a dezembro de 2020) e segundo período (as primeiras 17 semanas epidemiológicas de 2021 – antes do início da vacinação de gestantes e puérperas).

Durante o segundo período, todos os pacientes tiveram maior risco de apresentar casos graves de COVID-19, mas a população materna apresentou 2,6 vezes maior chance de morte em 2021 quando comparado ao ano de 2020 (Razão de chances: 2,60 IC 95%: 2,28–2,97) – quase o dobro da chance dos outros dois grupos (Razão de chances: 1,44 IC 95%: 1,42 – 1,46 para mulheres não gestantes e razão de chances: 1,31 IC 95%: 1,30 – 1,32 para homens). Para entender melhor o significado de Razão de Chances (do inglês: Odds Ratio), clique neste link.

As mulheres maternas também apresentaram maior risco de necessitar de cuidados intensivos, intubação e de apresentar dessaturação no segundo período em comparação com o primeiro ano da pandemia.

Nossos resultados sugerem que a variante Gama, que tem sido relacionada a maiores taxas de virulência, transmissibilidade e mortalidade, leva a casos mais graves de COVID-19 para gestantes e puérperas no ano de 2021 em comparação ao ano de 2020.

Veja a fala da pós-graduanda Beatriz  Gonçalves sobre seu trabalho no vídeo abaixo:

Link para artigo completo

Como citar:

Gonçalves BMM, Franco RPV, Rodrigues AS (2021) Maternal mortality associated with COVID-19 in Brazil in 2020 and 2021: Comparison with non-pregnant women and men. PLoS ONE 16(12): e0261492. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0261492

Disponibilidade dos dados e códigos:

Os dados que suportam os achados deste estudo estão disponíveis no repositório GitHub em  https://github.com/observatorioobstetrico/COVID19_2020vs2021.