Alunos de Iniciação Científica do OOBr apresentam seus trabalhos em encontro em São Paulo

13/07/2022

Notícia

Nos dias 25 a 27 de maio deste ano, os integrantes do Observatório Obstétrico Brasileiro se reuniram em São Paulo para cumprir uma agenda cheia de compromissos acadêmicos. Entre apresentações de trabalhos e debates de cunho científicos, os encontros ocorreram principalmente com a intenção de promover a discussão e a aplicação da teoria e de métodos estatísticos na área da saúde materno-infantil no Brasil.

No dia 26, em especial, os alunos de Iniciação Científica apresentaram seus trabalhos desenvolvidos pelo projeto no Auditório da Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FM-USP). Eles, que exercem papel fundamental nas pesquisas do OOBr, vivenciaram uma oportunidade ímpar ao apresentarem os resultados dos seus estudos para os pesquisadores do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FM-USP, cuja relação é de parceria e colaboração desde o surgimento deste observatório.

 

Assista aos vídeos das apresentações:

 

Elias Rosa e Ornella Scardua – “Modelo de classificação para COVID e Não COVID”

A fim de investigar uma possível subestimação dos casos de COVID-19 no público materno brasileiro, este estudo concentrou-se na aplicação de modelos de aprendizagem de máquina para classificar, dentre os casos de gestantes e puérperas de 10 a 55 anos classificadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não especificada, em branco ou ignorada, quantos casos foram de fato COVID-19 e quantos casos não estavam relacionados com COVID-19 (ou seja, infecções que foram causadas por influenza, outros vírus e outros agentes). Entre os modelos candidatos, foi escolhido o XGBoost, cujo desempenho preditivo foi melhor segundo as medidas de sensibilidade e especificidade. Além disso, devido ao XGBoost não ser interpretável (modelo caixa-preta), os métodos de interpretabilidade global Importância das Variáveis por Permutação e Gráfico de Efeitos Locais Acumulados e o método de interpretabilidade individual Valores Shapley foram utilizados nas decisões do modelo XGBoost para entender a relação entre fatores de sintomas e de comorbidades com a infecção por COVID-19. Para o objetivo deste trabalho, foram usadas as bases de dados de 2016 a 2021 do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), sistema oficial para o registro dos casos e óbitos por SRAG disponibilizado pelo Ministério da Saúde, no portal openDataSUS. As ferramentas para análise dos métodos são disponibilizadas por meio de documentação computacional bem formulada em https://www.github.com/observatorioobstetrico e os resultados, na plataforma web Shiny https://oobr.shinyapps.io/covid_vs_nespecificado/.

José Carlos Soares – “Vacinação contra COVID-19 da população materna”

No Brasil, a vacinação contra o COVID-19 teve início em janeiro de 2021, direcionada apenas para pessoas pertencentes aos grupos classificados como prioritários. Porém, a população materna só passou a ser considerada como grupo prioritário no início de maio de 2021, mesmo período em que observamos um comportamento de queda nos óbitos nesse grupo. O objetivo deste trabalho é verificar qual fator teve maior impacto na queda dos óbitos da população materna a partir de maio de 2021: a vacinação centrada especificamente para essa população ou o fato da população geral já estar sendo vacinada, o que conferiria um efeito protetor. A análise consiste em uma abordagem de Séries Temporais, em que são consideradas as informações diárias de óbitos e de vacinação da população geral e de gestantes e puérperas em 2021. Para verificar o impacto das séries de vacinação sobre a de óbitos, foram utilizadas funções de impulso resposta, com as quais conseguimos visualizar o impacto entre as séries através de choques estruturais dados por “impulsos” de uma série à outra.

Rafael Herzog – “Mortalidade maternal além de COVID-19”

O objetivo da apresentação consistiu em expor as dificuldades encontradas ao longo do caminho quando tentamos obter os dados de mortalidade materna por meio do SIM, o Sistema de Informação sobre Mortalidade. Discutimos desde as tentativas iniciais, a partir das quais descobrimos que uma parcela significativa dos óbitos de grávidas e puérperas não era considerada para o cálculo dos óbitos maternos realizado pelo Ministério da Saúde, passando pelas descobertas proporcionadas pelo Tabnet, do DATASUS, com as quais conseguimos determinar quais categorias e subcategorias da CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) eram, de fato, consideradas para a classificação dos óbitos maternos, e abordando, por fim, as condições necessárias para que um óbito de uma grávida ou puérpera seja considerado como um óbito materno, obtidas através de uma série de tentativas e verificadas através de uma reunião com funcionários da área técnica do Ministério da Saúde. Discutimos brevemente, também, sobre os óbitos de gestantes e puérperas que não eram considerados como óbitos maternos, a partir dos quais desenvolvemos, posteriormente, um estudo sobre uma possível subnotificação dos números de óbitos maternos divulgados pelo Ministério da Saúde, que pode ser encontrado no link: https://observatorioobstetricobr.org/publicacoes/oobr-apresenta-dados-de-mortalidade-gestantes-e-puerperas-no-brasil/.

Lucas Lacerda – “Qualidados – Qualidade de dados do SIVEP-Gripe”

Buscando facilitar o processo da avaliação da qualidade dos dados maternos e infantis, este trabalho tem como objetivo criar uma maneira mais prática de identificar os casos de incompletude, inconsistência e implausibilidade para diferentes níveis de análise e grupos de gestantes e puérperas, a depender das características selecionadas pelo usuário. Nessa versão do painel apresentada, foi possível entender quais as variáveis com maior percentual de não preenchimento ao longo do tempo, além de fazer comparações entre estados, entre municípios, entre estados e municípios etc. Além disso, o painel também possibilitou selecionar quais as implausibilidades que o usuário desejava encontrar (gestantes ou puérperas com idade acima de 90 anos ou abaixo de 0 anos, por exemplo). No encontro com pesquisadores do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FM-USP, foram propostas ideias de novas implementações muito interessantes, bem como foi destacado o potencial que esse painel/estudo pode ter na avaliação da qualidade da coleta de dados da saúde materno-infantil no Brasil.

Pedro de Brito – “Dados de maternidades”

O Brasil é o segundo país com a maior porcentagem de cesáreas do mundo. O trabalho apresentado busca observar se unidades de saúde que realizam poucos partos por ano apresentam maiores porcentagens de cesárea, controlando por variáveis confundidoras e fazendo um recorte por classificação de Robson. Para isso, foi apresentada a primeira versão do painel feito em Shiny, em que foi possível fazer diversos filtros para verificar a mudança na correlação e taxa de cesárea. Na apresentação, aconteceram algumas discussões relevantes sobre variáveis a serem incluídas no painel, entre outras coisas.

Daniel de Lima – “Dados ambientais e relações com dados obstétricos”

Diversos fatores podem comprometer a saúde materna no período gestacional, resultando em complicações durante a gravidez, durante o parto ou no desenvolvimento da criança. Na literatura são relatados que aspectos ambientais também podem representar fatores de risco à saúde materna, dentre eles, a qualidade da água e a sua disponibilidade. Diante da crise hídrica ocorrida em 2015, foram reportadas a presença de contaminantes nos sedimentos de represas do Sistema Cantareira. Com isso, surgiu a oportunidade do estudo para compreender o efeito da crise hídrica sobre as variáveis obstétricas dos municípios atendidos pelo Sistema Cantareira durante esse período, investigando o comportamento dessas variáveis disponíveis no Observatório Obstétrico Brasileiro. Além disso, com o intuito de expandir essa análise a nível nacional, está sendo desenvolvido um painel que utiliza dados relacionados às questões de saneamento, socioeconômicos e obstétricos. Dessa forma, será permitido visualizar e analisar suas variações ao longo do tempo e verificar suas relações nas regiões do Brasil.

Marina Sanches – Prematuridade e indicadores socioeconônimos

O aumento da prevalência de parto prematuro, que é um fenômeno global, é atribuído ao aumento das indicações médicas, gestações artificiais e alguns fatores socioeconômicos. Este estudo foi realizado para identificar se os índices de desenvolvimento e igualdade estão associados à incidência de parto prematuro, especificamente, partos prematuros espontâneos e eletivos. Este estudo observacional retrospectivo compreendeu uma análise de dados de nascidos vivos de 2019 no Brasil e de índices socioeconômicos derivados de informações censitárias em 2017. Os dados foram sumarizados por meio de frequências absolutas e relativas. A correlação de Spearman foi usada para determinar a correlação entre os fatores socioeconômicos e a taxa de nascimento prematuro. A análise de regressão beta múltipla foi realizada para determinar o melhor modelo de covariáveis ​​socioeconômicas e taxa de nascimento prematuro. O nível de significância foi estabelecido em 5%.