As condições socioeconômicas e de acesso a serviços de saúde são os determinantes mais distais do óbito materno, por interferirem nos eventos posteriores relacionados com a saúde reprodutiva.
Políticas intersetoriais integradas visando a promoção da saúde e a garantia de acesso a serviços de saúde de qualidade podem diminuir o risco de morte materna.
Os indicadores a seguir podem ser usados para monitorar as condições socioeconômicas nos estados e nos municípios. Entenda como eles se comportam no Brasil e no mundo e como estão relacionados com a mortalidade materna.
Entenda o modelo teórico de acompanhamento dos indicadores.
A morte materna não é um evento isolado, ela é o resultado de uma série de determinantes sociais em saúde que atuam ao longo de toda a vida reprodutiva da mulher. A partir de um modelo teórico que apresenta esses determinantes em seus vários níveis, foi identificado um conjunto de indicadores que estão disponíveis nos sistemas de informação brasileiros.

Ao longo da história de Aparecida, esses indicadores serão apresentados e contextualizados, para que você compreenda a importância do seu monitoramento e utilidade no apoio para tomada de decisões e ações de promoção da saúde das mulheres e prevenção da morte materna.
a. Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador que utiliza informações sobre expectativa de vida, escolaridade e renda para classificar os países segundo nível de desenvolvimento humano.
Mundialmente, a mortalidade materna está concentrada em países de menor renda e com menor IDH. Investimentos na melhoria da escolaridade e de acesso aos serviços de saúde da população é uma forma de aumentar o IDH de um município.


O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH Global – longevidade, educação e renda, adequando a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais.
No Brasil, municípios e regiões com menor IDHM também apresentam Razão de Mortalidade Materna mais elevada.




b, c, d. Proporção de nascidos vivos segundo cor da pele, idade e escolaridade materna
No Brasil, devido ao racismo estrutural, que afeta tanto a condição social quanto o acesso a serviços de saúde, a razão de mortalidade materna em mulheres pretas é duas vezes maior do que em mulheres brancas. Situação semelhante é observada em indígenas, que também apresentam maior razão de mortalidade materna do que mulheres brancas.

Políticas de promoção da igualdade racial e de controle do racismo estrutural, em especial nos serviços de saúde, podem garantir um acesso mais igualitário aos cuidados pelas mulheres pretas e indígenas.
Mulheres nos extremos etários (menos que 15 ou mais de 35 anos) e de menor escolaridade também apresentam um risco aumentado de morte materna. Garantir o acesso aos métodos de planejamento reprodutivo para todas as mulheres, tendo um olhar atento para as jovens e para as mulheres com fatores de risco pode modificar esses riscos.


e. Proporção de mulheres em idade fértil dependentes exclusivamente de serviços do Sistema Único de Saúde
O Brasil tem um sistema de saúde público de cobertura universal. Entretanto, cerca de 25% da população feminina em idade reprodutiva têm acesso a planos de saúde, sendo o acesso a esses planos mais frequente em pessoas de melhor condição econômica.

Dessa forma, a proporção de usuários que depende exclusivamente do SUS pode ser entendida como um marcador de maior vulnerabilidade social, além de indicar aos gestores locais qual a proporção de mulheres em idade reprodutiva que depende exclusivamente dos serviços públicos, podendo ser usado no planejamento das ações de saúde.


f. Cobertura populacional com a Estratégia de Saúde da Família (ESF)
A atenção básica é a porta de entrada do sistema de saúde brasileiro, sendo a estratégia de saúde da família o modelo assistencial prioritário. Estudos nacionais e internacionais mostram os efeitos benéficos da ESF em diversos desfechos em saúde.
No âmbito da saúde reprodutiva, a maior cobertura da ESF permite maior acesso ao planejamento reprodutivo, à assistência pré-natal e ao puerpério, bem como melhor controle de condições crônicas que possam aumentar o risco reprodutivo das mulheres.


No Brasil, a cobertura da ESF aumentou de 55% em 2012 a 63,8% em 2020, porém com grande variação regional.
Além da cobertura assistencial, é importante avaliar sistematicamente os resultados da assistência, para aprimoramento do cuidado ofertado. Um estudo que avaliou os três ciclos de avaliação do Programa de Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), realizados em 2012, 2013-2014 e 2017-2018, evidenciou falhas em itens da assistência pré-natal e variação regional nos resultados da assistência [1].
Acesse o painel com os indicadores aqui e identifique as situações de maior vulnerabilidade em seu município ou estado.
Referências
[1] Tomasi E et al. Evolution of the quality of prenatal care in the primary network of Brazil from 2012 to 2018: What can (and should) improve? PLoS One. 2022;17(1):e0262217.