2. Acesso ao planejamento reprodutivo e a prevenção de gestações indesejadas ou de alto risco

06/03/2023

O acesso ao planejamento reprodutivo e a prevenção de gestações indesejadas ou de alto risco é fundamental para que as mulheres tenham uma gestação segura.

A proporção de mulheres em idade reprodutiva que têm sua necessidade de planejamento familiar satisfeita por métodos contraceptivos modernos no mundo aumentou gradualmente nas últimas décadas, passando de 73,6% em 2000 para 76,8% em 2020 [1].

Dados sobre acesso a métodos contraceptivos não estão disponíveis nos sistemas de informação de uso rotineiro, mas os seguintes indicadores permitem avaliar as necessidades não atendidas de contracepção de forma indireta.

Os indicadores a seguir podem ser usados para monitorar as condições de acesso ao planejamento reprodutivo dos estados e dos municípios. Entenda como eles se comportam no Brasil e no mundo e como estão relacionados com a mortalidade materna.

Entenda o modelo teórico de acompanhamento dos indicadores.

a. Taxa de fecundidade em menores de 20 anos

A taxa de fecundidade das mulheres brasileiras tem apresentado um declínio acentuado. Entretanto, a taxa de fecundidade em menores de 20 anos permanece elevada, assim como em outros países da América Latina. Esse dado reflete a dificuldade de acesso a métodos contraceptivos por essas jovens.

A fecundidade em menores de 20 anos é um indicador importante a ser monitorado, pois a gravidez precoce, além de estar associada a maior risco de morte materna, afeta o acesso das adolescentes à educação e ao seu pleno desenvolvimento, podendo perpetuar ciclos intergeracionais de pobreza.

A redução da fecundidade em adolescentes é uma das metas da Organização Panamericana de Saúde para o desenvolvimento sustentável no período 2018-2030. Iniciativas que promovam orientação sexual e facilitação do acesso de jovens às unidades de saúde são importantes.

b. Proporção de grandes multíparas

Grandes multíparas são mulheres com mais de 3 partos anteriores, situação que aumenta o risco de morte materna.

Dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde [2] de 2006 mostram que o maior número de filhos é mais frequente em mulheres residentes na região Norte, não brancas, de pior condição econômica, e que tiveram o primeiro parto com menos de 20 anos de idade.

Num contexto de queda da taxa de fertilidade, a ocorrência de elevado número de partos está associada à dificuldade de acesso a métodos contraceptivos.

Embora a frequência da multiparidade seja baixa, é um importante indicador a ser monitorado, visando reduzir a ocorrência de gestações não planejadas e de alto risco, melhorar as condições de vida e reduzir desigualdades.

c. Taxa de aborto inseguro por 1000 mulheres em idade fértil e razão de aborto inseguro por 100 nascidos vivos

No Brasil, a interrupção da gestação só é permitida por lei nos casos de estupro, risco de vida para a mulher, ou no caso de bebês com anencefalia, uma mal formação congênita grave. Sendo assim, quando uma mulher tem uma gestação não planejada, e resolve interromper essa gestação, ela acaba recorrendo a métodos inseguros, o que aumenta o risco de uma morte materna.

Em países desenvolvidos, a taxa de abortos inseguros apresentou uma queda significativa entre os anos 1990-1994 e 2010-2014, passando de 46 para 27 por 1000. Já nos países em desenvolvimento, esses números permaneceram praticamente estáveis, passando de 39 para 37 por 1000 [3]. Na América Latina e Caribe, houve um aumento não significativo da razão de aborto inseguro, tendo o Caribe a maior razão global em 2010-2014.

Monitorar o número de abortos inseguros no país, e a relação abortos/nascimentos, é uma forma indireta de avaliar o acesso ao planejamento reprodutivo, já que informações sobre acesso a métodos contraceptivos não estão disponíveis de forma rotineira no país.

Acesse o painel com os indicadores aqui e identifique as situações de maior vulnerabilidade em seu município ou estado.

Referências

[1] https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/family-planning-contraception
[2] Tejada CA, Triaca LM, da Costa FK, Hellwig F. The sociodemographic, behavioral, reproductive, and health factors associated with fertility in Brazil. PLoS One. 2017;12(2):e0171888.
[3] Sedgh G, Bearak J, Singh S, et al. Abortion incidence between 1990 and 2014: global, regional, and subregional levels and trends. Lancet. 2016;388(10041):258-67.