4. Assistência ao parto

06/03/2023

A adequada assistência ao parto, com recursos disponíveis e atendimento oportuno, é essencial para o manejo de complicações e redução da mortalidade materna.

O uso apropriado de tecnologias médicas, e o cuidado centrado nas necessidades da mulher e da sua família, estão entre as recomendações mais recentes da Organização Mundial de Saúde para a assistência ao parto.

Os indicadores a seguir podem ser usados para monitorar as condições de assistência ao parto dos estados e dos municípios. Entenda como eles se comportam no Brasil e no mundo e como estão relacionados com a mortalidade materna.

Entenda o modelo teórico de acompanhamento dos indicadores.

a. Proporção de cesarianas

A cesariana é uma cirurgia importante, que pode salvar a vida da mulher e do bebê no caso de complicações graves.

Entretanto, ela tem sido realizada de forma excessiva no Brasil, o que traz riscos à saúde das mulheres e bebês, tanto na gestação atual quanto em gestações futuras.

Desde 2009, a cesariana é a via de nascimento mais frequente no país. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde afirma que uma proporção de cesariana superior a 15% na população NÃO está associada à menor ocorrência de morte materna.

No Brasil, estudos mostraram que em mulheres sem complicações na gravidez, a realização de uma cesariana antes do trabalho de parto aumentou em duas vezes a ocorrência de óbito materno e de complicações maternas graves.

b. Grupos de Robson

Uma forma de monitorar a taxa de cesariana é através dos grupos de Robson. Nessa classificação, as mulheres podem se enquadrar em 10 grupos diferentes, considerando as características da gestação atual e passadas.

O grupo 2 é composto por mulheres que estão tendo o seu primeiro parto, e que tiveram um trabalho de parto induzido ou uma cesariana sem entrar em trabalho de parto. Já o grupo 5 é composto pelas mulheres que fizeram uma cesariana em gestação anterior.

Atualmente, esses são os dois grupos mais frequentes entre as mulheres brasileiras.

c. Taxa de cesariana

A taxa de cesariana segundo grupo de Robson mostra a proporção de nascimentos que ocorreram por cesariana em cada um dos 10 grupos de Robson.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem uma estimativa do número esperado de nascimentos por cesariana em cada um dos grupos.

A comparação do valor observado com o valor esperado permite verificar os grupos onde existe maior excesso de nascimentos por cesariana.

O gráfico abaixo mostra a proporção de mulheres brasileiras em cada grupo de Robson no período 2011 a 2017, a taxa de cesariana em cada grupo, e a taxa recomendada pela OMS.

Pode-se observar excesso de cesarianas em todos os grupos, alcançando um valor quase seis vezes maior do que o recomendado no grupo 3.

d. Contribuição dos Grupos de Robson para a taxa global de cesariana

A contribuição dos grupos de Robson para a taxa total de cesariana depende do tamanho do grupo e da taxa de cesariana em cada grupo. Quanto maior o tamanho do grupo e quanto maior a proporção de cesariana em mulheres desse grupo, maior será sua importância para a taxa total de cesariana.

Atualmente, no Brasil, os grupos dois e cinco respondem por mais de 55% das cesarianas realizadas no país. Ou seja, para reduzir a taxa de cesariana no país é preciso evitar a primeira cesariana, promovendo o parto vaginal em mulheres que estão tendo seu primeiro parto, e também promover o parto vaginal após uma cesariana, evitando as cesarianas de repetição.

e. Deslocamento para o parto

A distância percorrida para receber a assistência ao parto é uma forma de medir a demora para conseguir atendimento num serviço de saúde. Dos três tipos de demora que aumentam o risco de ocorrência de uma morte materna, a segunda demora é a única possível de ser medida com os dados disponíveis nos sistemas de informação existentes.

Dados do estudo “Nascer no Brasil” mostram que 16% das gestantes brasileiras peregrinaram no momento da internação para o parto, ou seja, procuraram mais de um serviço para conseguir internação para a assistência ao parto [1].

Desde 2007, a vinculação da gestante a um serviço de referência para o parto é regulamentada por lei federal [2], cabendo aos gestores municipais e estaduais a regulação dos leitos obstétricos e a garantia de transporte seguro quando a transferência para serviços de maior complexidade é necessária.

Conhecer a proporção de gestantes que recebem a assistência ao parto no próprio município ou que precisam se deslocar, a proporção dessas gestantes que se deslocam para serviços de baixa ou alta complexidade, e a distância percorrida para ter acesso ao serviço, pode auxiliar os gestores municipais e estaduais no planejamento da oferta e regulação de leitos em suas regiões de atuação.

Acesse o painel com os indicadores aqui e identifique as situações de maior vulnerabilidade em seu município ou estado.

Referências

[1] Viellas EF et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública 2014; 30 Suppl 1:S85-100.
[2] Brasil. Lei no 11.634, de 27 de dezembro de 2007. Dispõe sobre o direito da gestante ao conhecimento e a vinculação à maternidade onde receberá assistência no âmbito do SUS. Diário Oficial da União 2007; 28 dez.