A adequada assistência ao parto, com recursos disponíveis e atendimento oportuno, é essencial para o manejo de complicações e redução da mortalidade materna.
O uso apropriado de tecnologias médicas, e o cuidado centrado nas necessidades da mulher e da sua família, estão entre as recomendações mais recentes da Organização Mundial de Saúde para a assistência ao parto.
Os indicadores a seguir podem ser usados para monitorar as condições de assistência ao parto dos estados e dos municípios. Entenda como eles se comportam no Brasil e no mundo e como estão relacionados com a mortalidade materna.
Entenda o modelo teórico de acompanhamento dos indicadores.
A morte materna não é um evento isolado, ela é o resultado de uma série de determinantes sociais em saúde que atuam ao longo de toda a vida reprodutiva da mulher. A partir de um modelo teórico que apresenta esses determinantes em seus vários níveis, foi identificado um conjunto de indicadores que estão disponíveis nos sistemas de informação brasileiros.
Ao longo da história de Aparecida, esses indicadores serão apresentados e contextualizados, para que você compreenda a importância do seu monitoramento e utilidade no apoio para tomada de decisões e ações de promoção da saúde das mulheres e prevenção da morte materna.
a. Proporção de cesarianas
A cesariana é uma cirurgia importante, que pode salvar a vida da mulher e do bebê no caso de complicações graves.
Entretanto, ela tem sido realizada de forma excessiva no Brasil, o que traz riscos à saúde das mulheres e bebês, tanto na gestação atual quanto em gestações futuras.
Desde 2009, a cesariana é a via de nascimento mais frequente no país. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde afirma que uma proporção de cesariana superior a 15% na população NÃO está associada à menor ocorrência de morte materna.
No Brasil, estudos mostraram que em mulheres sem complicações na gravidez, a realização de uma cesariana antes do trabalho de parto aumentou em duas vezes a ocorrência de óbito materno e de complicações maternas graves.
b. Grupos de Robson
Uma forma de monitorar a taxa de cesariana é através dos grupos de Robson. Nessa classificação, as mulheres podem se enquadrar em 10 grupos diferentes, considerando as características da gestação atual e passadas.
O grupo 2 é composto por mulheres que estão tendo o seu primeiro parto, e que tiveram um trabalho de parto induzido ou uma cesariana sem entrar em trabalho de parto. Já o grupo 5 é composto pelas mulheres que fizeram uma cesariana em gestação anterior.
Atualmente, esses são os dois grupos mais frequentes entre as mulheres brasileiras.
c. Taxa de cesariana
A taxa de cesariana segundo grupo de Robson mostra a proporção de nascimentos que ocorreram por cesariana em cada um dos 10 grupos de Robson.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem uma estimativa do número esperado de nascimentos por cesariana em cada um dos grupos.
A comparação do valor observado com o valor esperado permite verificar os grupos onde existe maior excesso de nascimentos por cesariana.
O gráfico abaixo mostra a proporção de mulheres brasileiras em cada grupo de Robson no período 2011 a 2017, a taxa de cesariana em cada grupo, e a taxa recomendada pela OMS.
Pode-se observar excesso de cesarianas em todos os grupos, alcançando um valor quase seis vezes maior do que o recomendado no grupo 3.
d. Contribuição dos Grupos de Robson para a taxa global de cesariana
A contribuição dos grupos de Robson para a taxa total de cesariana depende do tamanho do grupo e da taxa de cesariana em cada grupo. Quanto maior o tamanho do grupo e quanto maior a proporção de cesariana em mulheres desse grupo, maior será sua importância para a taxa total de cesariana.
Atualmente, no Brasil, os grupos dois e cinco respondem por mais de 55% das cesarianas realizadas no país. Ou seja, para reduzir a taxa de cesariana no país é preciso evitar a primeira cesariana, promovendo o parto vaginal em mulheres que estão tendo seu primeiro parto, e também promover o parto vaginal após uma cesariana, evitando as cesarianas de repetição.
e. Deslocamento para o parto
A distância percorrida para receber a assistência ao parto é uma forma de medir a demora para conseguir atendimento num serviço de saúde. Dos três tipos de demora que aumentam o risco de ocorrência de uma morte materna, a segunda demora é a única possível de ser medida com os dados disponíveis nos sistemas de informação existentes.
Dados do estudo “Nascer no Brasil” mostram que 16% das gestantes brasileiras peregrinaram no momento da internação para o parto, ou seja, procuraram mais de um serviço para conseguir internação para a assistência ao parto [1].
Desde 2007, a vinculação da gestante a um serviço de referência para o parto é regulamentada por lei federal [2], cabendo aos gestores municipais e estaduais a regulação dos leitos obstétricos e a garantia de transporte seguro quando a transferência para serviços de maior complexidade é necessária.
Conhecer a proporção de gestantes que recebem a assistência ao parto no próprio município ou que precisam se deslocar, a proporção dessas gestantes que se deslocam para serviços de baixa ou alta complexidade, e a distância percorrida para ter acesso ao serviço, pode auxiliar os gestores municipais e estaduais no planejamento da oferta e regulação de leitos em suas regiões de atuação.
Acesse o painel com os indicadores aqui e identifique as situações de maior vulnerabilidade em seu município ou estado.
Referências
[1] Viellas EF et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad Saúde Pública 2014; 30 Suppl 1:S85-100.
[2] Brasil. Lei no 11.634, de 27 de dezembro de 2007. Dispõe sobre o direito da gestante ao conhecimento e a vinculação à maternidade onde receberá assistência no âmbito do SUS. Diário Oficial da União 2007; 28 dez.